Entenda a crise entre Equador, Colômbia e Venezuela.
julho 18, 2008

A crise diplomática entre o Equador, Colômbia e Venezuela teve início após um ataque do governo colombiano contra as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) dentro de território equatoriano. No ataque morreu Raúl Reyes, um dos principais líderes das Farc, considerado o “número dois” da guerrilha. Ao menos outros 16 guerrilheiros também morreram na ação colombiana. O governo de Quito afirma que, no total, seriam 22 mortos.

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No dia seguinte (2), o presidente venezuelano, Hugo Chávez, aliado do presidente equatoriano Rafael Correa, ordenou o fechamento da embaixada da Venezuela na Colômbia e a mobilização de “dez batalhões” militares na fronteira entre os dois países. Quito também retirou seu embaixador em Bogotá.

Logo depois, ainda no domingo, Correa anunciou a “expulsão imediata” do embaixador da Colômbia em Quito e solicitou uma reunião urgente da OEA (Organização dos Estados Americanos) e da CAN (Comunidade Andina de Nações) para tratar do ataque colombiano ao território equatoriano. Correa disse que tinha ordenado a “mobilização de tropas” na fronteira com a Colômbia e exigiu do governo colombiano não só desculpas, mas “compromissos firmes de respeito ao Equador”.

Logo em seguida, o governo da Colômbia afirmou ter encontrado informações sobre supostas ligações do governo equatoriano com as Farc em computadores que pertenciam ao guerrilheiro Raúl Reyes, morto na operação militar de sábado. A informação foi imediatamente desmentida por Quito.

Na segunda-feira (3), líderes e governantes de todo o mundo se manifestaram sobre a crise. A Venezuela ordenou a “expulsão imediata” do embaixador da Colômbia e do corpo diplomático da embaixada colombiana em Caracas.

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(Da esq. para a dir.) Os presidentes da Venezuela (Hugo Chávez), da Colômbia (Álvaro Uribe) e do Equador (Rafael Correa)

As decisões de Caracas e Quito de romper relações diplomáticas com a Colômbia foram adotadas depois que Bogotá revelou a suposta existência de acordos das Farc com os governos de Equador e Venezuela. Bogotá informou que as revelações serão apresentadas à OEA.

Depois de denunciar a suposta ligação do Equador com as Farc, o governo colombiano anunciou que pediria à OEA que investigue uma suposta doação de US$ 300 milhões (cerca de R$ 504 milhões) que o governo da Venezuela teria feito às Farc, assim como um fornecimento de armas.

Na terça-feira (4), a Colômbia denunciou a intenção das Farc de obter material radioativo para a fabricação de uma “bomba suja” –artefato explosivo convencional misturado com componentes nucleares (ou ainda químicos ou biológicos). As informações estariam em dois computadores de Reyes apreendidos no fim de semana.

Pouco depois da nova denúncia colombiana, a Venezuela anunciou o fechamento de suas fronteiras com a Colômbia.

Na sexta-feira (7), o presidente equatoriano, Rafael Correa, aceitou as desculpas de seu colega colombiano, Álvaro Uribe, e com um aperto de mãos deram por encerrado o conflito diplomático que envolveu também os presidentes da Venezuela e da Nicarágua. A paz foi selada na Cúpula do Grupo do Rio, em Santo Domingo, capital da República Dominicana.

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Entendendo a História

Mercosul: integração em crise? – tentando entender.

Por que Brasil

Guerra Fria

Mercosul: integração em crise? – tentando entender.
abril 3, 2008

Na reunião de Chefes de Estado do Mercosul, em 2007, o presidente Lula defendeu a unidade do bloco e cobrou de seus colegas presidentes mais rapidez nas decisões.

   

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Chegou a comparar o Mercosul a “um filho feio que ninguém quer” e apontou a pressão de “inimigos internos e externos” como responsável pela lentidão na concretização dos acordos, dizendo que os presidentes devem fazer valer seus mandatos, sem ceder a um ou outro setor, mas mantendo o foco no conjunto da economia.

Afirmando que o bloco, em parte, não avança por causa dos próprios países membros, Lula exemplificou mostrando como as divergências entre a Petrobras e as estatais petrolíferas da Venezuela e Bolívia foram resolvidas por decisão política dos presidentes dos três países. 

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Divergências na América do Sul 

É certo que as divergências entre os países do continente são muitas. Algumas delas históricas, como a perda  boliviana de acesso ao mar após a derrota na Guerra do Pacífico, travada contra o Chile no século XIX. O tema é de suma importância para o governo boliviano por se tratar de questão estratégica. Somente a Bolívia e o Paraguai, na América Latina, não têm saída para o oceano.  

Em outras, o conflito é recente, como o caso entre Argentina e Uruguai que foi desencadeado pela questão ambiental provocada pela instalação de duas fábricas de celulose no Rio Uruguai, na fronteira argentina. O assunto tem rendido problemas à integração do Mercosul, haja vista que os dois países são membros do bloco.  

Existem também os incômodos provocados pelas posturas nacionalistas da Venezuela, Bolívia e Equador. Esses países passam por crises políticas internas que afetam de alguma forma suas relações com os vizinhos. Fora as questões contratuais com a brasileira Petrobras, a nacionalização das reservas de gás e petróleo na Bolívia criou risco de queda de fornecimento de gás para Brasil e Argentina.   

As revisões das Constituições desses países, que ameaçam o rompimento com a alternância normal de poder e a quebra dos procedimentos democráticos, geram resistência dos vizinhos à entrada deles no Mercosul. Hugo Chávez se queixa e cobra dos parlamentares brasileiros e do Paraguai a longa espera pela aprovação do protocolo de adesão de seu país ao Mercosul.  

A personalidade belicosa de Hugo Chávez também desperta preocupação, não só por conta do armamento pesado que vem comprando nos últimos meses como pela forma com que vem interferindo na campanha de candidatos em eleições de países sul-americanos, como Peru, México e ultimamente Argentina.   

Há ainda a polarização que leva um grupo de países na América do Sul a buscar acordos bilaterais de livre comércio com os EUA. Nesse sentido, Chile, Peru e Colômbia se opõem ao discurso antiamericano da Venezuela e da Bolívia. O Brasil adota uma terceira posição que é a de só negociar com os EUA em conjunto com os demais sócios do Mercosul.   

Mas os conflitos e os desencontros fazem parte do processo, como aprendemos com os europeus, que passaram por períodos de grandes dificuldades e venceram pela negociação persistente que resultaram na União Européia. 
 
Uma integração bem sucedida deve promover a distribuição equilibrada de benefícios e alguns países exercem um papel crucial nesse processo. Na União Européia foram a Alemanha e França; no continente sul-americano o eixo da integração é formado por Brasil e Argentina, embora não se resuma a eles. 
  

Aprendemos também com os europeus que a prática da negociação ponderada é importante para ganhar coesão e harmonia, considerando que entre os vizinhos há economias menos industrializadas e estruturadas. Há momentos em que os países em melhor situação precisam aceitar a redução dos próprios benefícios, reconhecendo as insuficiências dos demais, para poder incorporá-los ao desenvolvimento regional.

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 Fonte: Educação 24 horas – www.educacao24horas.com.br?origem=e23 

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